O dia em que Fernanda resolveu voar.



Todos os dias Fernanda acordava do mesmo jeito: saltitando de felicidade,abrindo as janelas e sorrindo para o sol(ou para a chuva,que seja! O importante era sorrir.)Enfim,a versão feminina de Charlie B.Jr em ''Hoje eu acordei feliz..''. No entanto,teve um dia....

Em que Fernanda acordou,colocou os pés em seu tapetinho roxo –ela o adorava,fora feito pela sua avó -,esticou os braços para trás e levantou.Sentindo um peso além dos seus 65 kilos destribuidos em 1,78 cm de altura(Uma modelo!),moveu os ombros para frente e para trás,prestes a deslocá-los,e nada aconteceu.
E foi assim o dia inteiro.Nada acontecia.

No outro dia,Fernanda pensou,pensou e pensou no que poderia estar ocasionando tamanha dor ao acordar
‘’Vai ver,foi porque não saltitei...’’-pensou ela.
Então,preparou os dois pés em frente da cama e começou a tentar pular,na primeira tentativa,mal saiu do chão e caiu em cima do tapetinho roxo,torceu o pé.Gritou todos os palavrões que conhecia e inventou outros milhares.
‘’Maldito tapetinho roxo! Roxo???? Por que ROXO? Meu quarto é branco e vermelho,vovó!! Por que me dar um tapetinho ROXO? E ele tem pelinhos que soltam pelo quarto e contribuiem para eu cair quando chego em casa bebada de madrugada.Porque,SIM VOVÓ...EU BEBO! E HÁÁÁ eu chego de madrugada”-berrou ela ao telefone com a avó e jogou o tapetinho roxo debaixo da cama.
Se o problema fosse o tapete....Tentou procurar outro problema,resolveu ir em uma pessoa em que ela SEMPRE arrumava um problema,se olhou no espelho:
-Oi...Você aí! Mancando! Olha pra mim! –encarou ela mesma no espelho por alguns segundos- você se acha bonita,é? Pra que toda essa altura? Não ganha dinheiro como modelo,então parece um perna de pau...E quando você coloca salto alto? UM TRAVECO HAHAHAHÁ
Ignorando os ‘’elogios’’ feitos a si mesma em frente ao espelho,ela foi mancando arrumar sua roupa para o trabalho,o mesmo trabalho de sempre...Chegava lá e esperava dar a hora do almoço,desceria e comeria em um restaurante na esquina do trabalho,olharia os casais na rua –pediria para Deus um homem para dar as mãos,fazia o sinal do crucifixo e diria ''Amém'' - voltaria para o trabalho,pegaria o trem cheio e sentiria o cheiro das axilas alheias,chegaria em casa...Assistiria a novela das oito que começa às nove,pensaria que a maioria dos atores estariam assistindo a uma peça no teatro do Leblon,iria dormir e no outro dia fazer tudo de novo.Então,percebeu que o problema não era a sua altura e,muito menos,o tapetinho fofo e roxo da vovó,era a:rotina.
Rotina.

6 letras,três vogais,três consoantes e um problema sério para Fernanda.

Rotina traz consigo: Sorrisos programados,nada de inesperado,abraços regulados e desespero dobrado.Por isso,aconselho: Aventure-se,esqueça as entrevistas do programa do jô de pessoas bem sucedidas falando o quanto arriscaram o emprego para correr atrás de ser feliz e: arrisque você mesmo,seja feliz você mesmo.Afinal,não é isso que a gente quer? Surpresas gostosas,beijos
inesperados,cineminha no feriado...Queremos ser feliz e rotina nunca foi sinônimo de felicidade para Fernanda,por que viver o mesmo dia várias vezes? Por que não se permitir coisas diferentes? Por que não ouvir Lulu Santos quando disse “E não há tempo que volte,amor..Vamos viver tudo que há pra viver,vamos se permitir”, Por que?,Por que?
Talvez o motivo tão procurado esteja na capacidade inútil e desprezível do ser humano de,depois de um tempo,se acomodar...Acomodar-se no que está ruim,no que está bom e,pior ainda,no que está (quase) bom,desde quando quase levou alguém a algum lugar? O medo de correr risco,o medo de perder...Te leva a perder muito mais.
Bem,quando lembrei que estava narrando a história de Fernanda: percebi que perdi ela de vista.Sumiu,olhei para os céus,pedi a Deu....LÁ VI FERNANDA! No céu!

Não,Fernanda não morreu.

Fernanda resolveu lutar contra o pé que insistia em mancar e realizar o sonho de se sentir um passarinho,obviamente com um instrutor e equipamentos,afinal: Fernanda decidiu ser livre,não burra.Não adiantava pular do prédio e achar que ia voar,pra arriscar é preciso estar vivo! E não ter medo de voar é a raiz das asas que,futuramente,te farão levantar muitos voos.
Fernanda se sentiu como nunca pensou que iria se sentir,teve pena de todos os pássaros presos na gaiola,com asas totolmente perfeitas e sem poder sem usadas,mas sentiu mais pena ainda daqueles que estão presos em um lugar que deveria servir...De aconchego.Daqueles que estão presos dentro de si mesmo,não conseguem voar(metaforicamente falando) pra fora de si mesmo e olhar o mundo
como algo totalmente possível e só veem pedras no caminho que os fazem pensar que: Quanto mais alto o voo,mais machucados ficaram,pelas pedras,quando caírem.Gente! Peguem essas pedras e,pra não ser muito Fernando Pessoa e falar pra construir o castelo,joguem para marcar o jogo de amarelinha(Se você não jogava amarelinha,desenhada no chão e usava a pedrinha pra evitar a casa em que ela está...Você não sabe o que está perdendo,desenhe ai e brinque) Fernanda sempre gostou de pensar na sua vida como um jogo de amarelhinha,isso mesmo...E agora,ela havia chegado ao céu,literalmente.
“Vó,me desculpe...O tapete é lindo e eu adoraria que você fizesse mais e me mandasse! Mas,meu quarto é vermelho,então...Poderia ter um vermelho?! E eu nem gosto tanto de perder,de verdade,beber muito faz com que eu me perca de mim e...Posso falar,vó? Eu tô querendo muito me encontrar.Acabei de voltar do céu! Quero voar cada vez mais alto,superei o obstacúlo do meu pé torcido,não dava mesmo pra fazer um passeio muido bom pela terra com ele,então resolvi tentar o céu.Beijo’’-disse Fernanda,na secretária eletrônica de sua vó,dois dias depois recebeu uma encomenda com vários conjuntos de tapetes,colocou no centro do quarto.

Depois de se desculpar com a segunda mãe,resolveu se desculpar com alguém que não largava ela de jeito nenhum e que ela andava tratando muito mal,foi até o espelho:
’’Olha,eu sei...Você estava nervosa.Mas,eu queria que você soubesse que: Você não parece um traveco,a Gisele Bündchen,talvez,mas um traveco? Jamais?! Pra você não se esquecer..-colocou o papel de post it no espelho dizendo:
“Você é linda.Linda pra caralho.’’
Olhou por alguns segundos aquele recado,se chamou de egocêntrica mentalmente e depois pensou em voz alta:
-Quer saber? Alguém tem que falar isso pra mim e cansei de esperar o bofe certo,vou deixar aqui,vou falar pra mim e,se eu quiser,vou ME mandar flores e ME ligar no dia seguinte.

Ela sentiu que poderia andar de salto sem parecer um traveco,mas,naquele final de tarde,resolveu andar descalça na areia.Tentou,com todas as forças,manter a pose de comercial da Sundow,mas o pé mancando deixava o ar um pouco menos elegante.
Olhando para o mar,percebeu que as ondas ficavam bem furiosas às vezes,ultrapassava os limites e chegava até a areia,riu mentalmente lembrando de algum banhista correndo do seu transe praiano e lembrando de pegar as suas coisas jogadas na areia,e quase chorou ao pensar no castelinho de uma criança sendo levado pela onda,mas as ondas sabem deixar a gente pegar jacaré,mergulhar,fazer a paisagem ficar mais bonita...Fernanda,então,se autodenominiou uma ‘’onda’’ que tem seus tempos bons,seus tempos ruins..E,nestes,meu querido: Ela virava um grande tsunami.
Mas,de hoje em diante tudo de salto alto e salto livre.



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Sobre a realidade...

Tenho evitado dormir,esse ato me traz sonhos ruins.Mas,o que fazer quando a sua realidade também se torna um pesadelo? Suicídio é a saída escolhida por muitos,exemplos não faltam por ai:Um estudante da 8ª série matou a tiros o diretor de sua escola no Estado da Pensilvânia (nordeste dos EUA) e depois se suicidou.
No entanto,não é necessário ir tão longe para buscar fatos como esse: Em 2011,Wellington Menezes Oliveira matou pelo menos 11 crianças de uma escola no Rio de Janeiro e cometeu suicídio logo depois.
E,aparentemente,todos eles se sentiam mais fortes ao dar esse desfecho às suas estórias e,consequentemente,a estória de vários inocentes.Mal sabiam que negar a realidade só os torna mais fracos,nesses dois casos apresentados o suicídio não é em si o mal a ser tratado,temos também o homicídio.
Enquanto existirem pessoas que se julgarem capazes de retirar a vida de outra pessoa e de si mesmo,tudo continuará assim,um ciclo vicioso e que,no fim,não importa muito quem foi o assassino ou quem foi a vítima: Falar para uma mãe que o seu filho está morto,equivale a mesma dor: para a mãe do criminoso e para a mãe da vítima.
Queria estender as minhas mãos e propôr um gesto de trégua,melhorar o mundo apenas com a minha força de vontade e torcer para que os assassinos entendam que uma arma na mão não é sinal de força,e sim sinal do quanto são fracos e precisam desse objeto para colocar à sua frente e matar cada um que sugerir expor a sua fraqueza para a sociedade.Todo esse fingimento é pago com líquidos: desde o sangue viscoso do morto até a lágrima dos entes familiares.
Não posso propôr sozinha um gesto de trégua,muito menos melhorar o mundo só com a minha força de vontade,todo esse sentimento filântrópico pode fazer bem para a alma...Mas,alma é algo que tem sua existência fora do corpo e se comunica com um mundo espiritual,para o mundo terreno e corpo físico só desejo uma coisa: Força! Seremos fortes,admitiremos nossos medos e,caso a fraqueza transparecer,a dissiparemos com a nossa força.

Ps: Ok,não é um tema que eu costumo falar muito aqui no blog.
Mas,como disse desde o início,isso aqui nada mais é que um diário virtual - que todos veem- ,então resolvi escrever sobre esse tema no meu diário.
Acabei de assistir o filme
''Salve Geral''.
É uma prova magnífica de como o cinema nacional tem capacidade de crescer,senti a realidade no filme(realidade trágica e cruel,mas não podemos melhorar a realidade apenas com diretores e câmeras.Então,mostrar como ela é fez o filme ser tão bom pra mim) e ao pensar em realidade me lembrei desse tema tão decorrente e dos exemplos ocorridos ano passado.
Enfim,gosto de filmes assim
.A vida imita a arte,mas acho muito bacana também quando a arte imita a vida.
Queria debater com vocês sobre esse assunto(homício,suicídio,realidade...): O que pensam sobre isso? :)
Um beijo.

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